
Somos apresentados ao artista com um auto-retrato construído a partir de círculos de papel, pequenos restos de papel furado, numa fotografia ampliada colocada sobre uma enorme parede vermelha que marca o início da exposição.
Os conceitos de útil e inútil misturam-se numa brincadeira de comida, papéis rasgados, lixo e terra com uma habilidade surpreende e uma visão espantosa do ser humano e da sociedade actual. Em “Nuvens”, Muniz propõe-se a recriar uma versão adulta de um desenho de criança: recorrendo a aviões de propaganda aérea, são desenhadas nuvens sobre uma cena da cidade. O fascínio do artista pela desconstrução e construção de paisagens é visível noutros trabalhos tais como “Earthworks”, desenhos em grande escala em campos despidos; numa outra perspectiva temos Linha, quadros “pintados” com um emaranhado de fios, reflectindo cenários bucólicos.
Em “Lixo”, “Sucata” e “Açúcar”, o artista explora a sua visão da sociedade, construindo imagens que pretendem ser tanto um reflexo como uma crítica da actualidade.
Por outro lado, somos imediatamente puxados para os azuis, vermelhos e amarelos vivos: índios e cavalos, crianças e adultos formados por pequenos soldados e outros brinquedos.
A admiração por grandes artistas, contemporâneos ou não, encontra-se bem reflectida na exposição, quer seja na técnica, o action painting de Jackson Pollock, ou na sua interpretação de obras de pintores conceituados tais como Van Gogh, Bosch, Leonardo da VInci, Goya ou Warhol.
É inevitável o sorriso ao sair do museu. A originalidade e o talento de Vik Munik são inegáveis. Quem diria que até um prato de esparguete pode ser uma obra de arte? Pelas palavras do artista: “É pela interacção com o material, trabalho, pelo esforço e, em última instância, pelo fracasso (…). Se eu posso, qualquer um pode”.
Texto e fotos por Catarina Santos.